Manuel Lopes claridade
25-01-2005 Último sobrevivente de Claridade, o escritor cabo-verdiano Manuel Lopes morreu hoje em Lisboa, onde vivia há mais de 40 anos. Último sobrevivente dos fundadores da revista Claridade, o autor de “Flagelados de vento leste” e “Poemas de quem ficou”, entre outros vários títulos, contava 97 anos de idade.
Manuel Lopes claridade
Ficcionista, poeta e ensaísta, nos últimos anos pintor também, Manuel Lopes morreu hoje em Portugal, onde vivia desde 1959. Fundador com Baltasar Lopes da Silva e Jorge Barbosa da revista Claridade, Manuel Lopes integra por isso a galeria dos fundadores da moderna literatura cabo-verdiana. Os seus romances “Chuva Braba” e “Flagelados do Vento Leste” são ainda hoje exemplos da definição dos contornos dessa ficção nascida nos anos 40 com a publicação de “Chiquinho”, do seu colega Baltasar Lopes da Silva.
Manuel Lopes publicou também, entre outros títulos, “Poemas de quem ficou” (1949) e mais recentemente “Falucho ancorado” (1997) que reúne alguma da sua poesia dispersa. Nalguns dos seus poemas estão patentes a típica inquietação claridosa: “Nunca parti deste cais/ e tenho o mundo na mão! / Para mim nunca é de mais / responder sim / cinquenta vezes a cada não”, escreveu no poema “Cais” inserto no livro “Crioulo e outros poemas”, de 1964.
A propósito da morte de Manuel Lopes, figura com quem não se entendia politicamente, o embaixador cabo-verdiano em Lisboa, Onésimo Silveira, afirma: “Podemos discordar dele politicamente, mas não há dúvida que era um prosador de fino recorte literário. Cabo Verde deve-lhe muito”.
Ainda que a sua obra narrativa mais significativa seja de temática santo-antonense, Manuel Lopes era na verdade natural de São Vicente, tendo nascido em 1907 nessa ilha. Jovem ainda conheceu o caminho da emigração. A família fixa-se em 1919 em Coimbra (Portugal) e em 1923 ele regressa a Cabo Verde como funcionário de uma companhia inglesa. Em 1944 portanto já depois da fundação de Claridade , é transferido para os Açores, onde vive até fixar-se novamente em Portugal em 1959, mais concretamente em Lisboa, onde passa a viver até a sua morte.
Ao longo da vida Manuel Lopes foi contemplado com vários prémios literários tanto em Portugal como em Cabo Verde. O seu romance “Flagelados do vento leste” foi Prémio Meio Milénio do Achamento de Cabo Verde, em 1968. Antes, por duas vezes, ganhou o Prémio Fernão Mendes Pinto “Chuva Braba (1956) e “Galo cantou na baía” (1959). Em Cabo Verde, em 1986, portanto depois da independência e por ocasião do cinquentenário da Claridade, foi-lhe atribuído o Prémio Claridade, ex-aequo com Baltasar Lopes da Silva.
José Vicente Lopes in A Semana
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