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Manuel Lopes – a Voz da Estiagem Cabo-verdiana

24 Janeiro, 2014 05:00 Comentar isto

Manuel Lopes escritor. Aos noventa e seis anos de idade, vive despercebidamente, num dos bairros da zona antiga de Lisboa, o último sobrevivente da primeira geração “Claridosa” cabo-verdiana, Manuel Lopes.

Poeta sensível e ensaísta perspicaz, é no entanto na ficção que Manuel Lopes mais se irá distinguir, retratando com particular empatia humana e mestria artística, através das personagens que cria, a tragédia das estiagens de Cabo Verde.

Os seus romances Chuva Braba (1956) e Os Flagelados do Vento Leste (1960), bem como o livro de contos O Galo Cantou na Baía (1959), foram alvo de tradução para várias línguas e agraciados com os prémios literários Fernão Mendes Pinto (Chuva Braba e O Galo Cantou na Baía) e Meio Milénio do Achamento das Ilhas de Cabo Verde (Os Flagelados do Vento Leste).

Tarda, no entender de muitos, um merecidíssimo Prémio Camões, para um autor que alçou através da sua escrita, de forma inigualável, as vivências de uma cultura de língua (não só, mas também) portuguesa à dimensão universal.

Manuel Lopes - escritor

Manuel Lopes – escritor

Manuel Lopes escritor

Manuel Lopes nasceu em S. Vicente a 23 de Dezembro de 1907. Aos catorze anos, desígnios de família obrigaram-no a contra-gosto a deixar a sua ilha para ir residir em Coimbra.

Esse desenraizamento precoce, que vem a durar quatro anos, deixará marca indelével na memória e na personalidade do escritor, estando porventura subjacente ao sentimento de nostalgia que atravessa toda a sua obra, particularmente a sua poesia.

Da ida para Coimbra, donde “desanda” para S. Vicente tão logo possa dispor de si mesmo, diz ter sido “um erro absoluto.” Era em S. Vicente, entre os amigos e a sua gente, que queria estar. Aí arranja o primeiro emprego, no Telégrafo Inglês, e entrega-se com gosto, entre inícios de 1930 e 1944, quando volta a deixar Cabo Verde, aos estímulos que a cultura mindelense da época tinha para lhe oferecer: tertúlias, “paródias,” actividades desportivas, os filmes americanos.

Leitor ávido, reserva no entanto um tempo muito especial ao “convívio” com a obra de contemporâneos seus, nomeadamente os neo-realistas portugueses e os autores “regionalistas” brasileiros. É, aliás, na senda regionalista que lançará no Mindelo, em 1936, com Baltazar Lopes e Jorge Barbosa, a revista Claridade, dando então início, conjuntamente com esses companheiros, ao que viria a revelar-se o movimento intelectual cabo-verdiano mais marcante e influente até hoje.

Evocando anos mais tarde o contexto da publicação original de Claridade, que perduraria de forma intermitente até à década de sessenta, Baltazar Lopes diria: “Há pouco mais de vinte anos eu e um grupo de amigos começámos a pensar no nosso problema, isto é, no problema de Cabo Verde.

Preocupava-nos sobretudo o processo de formação social destas ilhas, o estudo das raízes de Cabo Verde.” A ilustrar a “preocupação” estaria a capa do primeiro número da revista, que inclui “2 motivos de Finaçon (batuque da ilha de Santiago).”

Curiosamente, apesar desta inclusão que dá destaque a uma das tradições cabo-verdianas mais combatidas pelas autoridades coloniais, em virtude do seu visível entroncamento nas culturas da África negra (o mesmo batuque de Santiago), a crítica cabo-verdiana, em especial a que se manifesta sob o impulso nacionalista, virá acusar os “claridosos” em geral de terem procurado “diluir” o contributo negro-africano na formação da identidade cabo-verdiana.

Do mesmo modo, essa crítica iria não poucas vezes fustigar Manuel Lopes pela sua aparente recusa em confrontar abertamente, por meio de um discurso politizado, o abandono a que se encontrava votado Cabo Verde.

No entanto, é incontestável que Os Flagelados do Vento Leste terá sido das obras literárias que maior desconforto terá provocado em alguma da intelligentia portuguesa da época, sendo disso sintomático, por exemplo, que, em 1972, recenseando o romance, Óscar Lopes tivesse dito:

“Há quem tenha posto em dúvida a possibilidade de um romance português de categoria universal. Traduzam este romance, e verificaremos se interessa menos lá fora do que o melhor de Jorge Amado, Lins do Rego ou Graciliano Ramos. A mim interessa mais: responsabiliza-me pessoalmente.” (sublinhado nosso).

Manuel Lopes - selo Cabo Verde 2007

Manuel Lopes – selo Cabo Verde 2007

Em 1984, em nota introdutória à segunda edição do romance, Manuel Lopes não se coibiria de endereçar as críticas que lhe vinham sendo feitas ao longo das décadas anteriores, clarificando aí as premissas que o nortearam como romancista: “Escolhi então,” diz na nota, “a arma mais eficaz do ficcionista: a “discreta” denúncia duma situação histórica, sem apontar o dedo acusatório, apenas com o intuito de transmitir aos outros (é a nossa grande força interior) os mesmos sentimentos, a mesma repulsa que me assaltaram, levando-lhes a experiência da minha perplexidade (e da minha esperança), sem disfarces ou fácil demagogia, mas com a mais sincera humildade, para que achassem eco no silêncio da sua solidão e das suas consciências; dizer-lhes, em suma, que algures numas indefesas ilhas do Atlântico em plena rota da chamada civilização ocidental, neste século das solidariedades, um mal devastador exigia a presença imediata e constante do clínico, não para disfarçar a anomalia, mas para se evidenciar capaz de fornecer a terapêutica adequada a recuperação e sobrevivência de um povo, que ousou contrariar os desígnios da natureza [.]“.

Transferido de São Vicente, em 1944, para a ilha do Faial, nos Açores, Manuel Lopes de novo partirá, desta vez de forma definitiva, de Cabo Verde. Mas não sem que tivesse antes, no entanto, testemunhado pessoalmente, na ilha de Santo Antão, onde adquirira um terreno para cultivo, os efeitos atrozes da seca sobre o camponês cabo-verdiano.

É esse testemunho que serve de base aos seus dois magistrais romances. Durante a sua estadia nos Açores, redige um dos seus ensaios mais conhecidos, Os Meios Pequenos e a Cultura, que apresenta no Sporting Club da Horta em 1951, e publica os Poemas de Quem Ficou. Em 1966, já a residir em Lisboa, participa no VI Congresso Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, a decorrer nas Universidades de Harvard, Massachusetts, e Columbia, Nova Iorque.

Homem comedido, pouco dado a intervenções públicas, Manuel Lopes nunca perdeu, apesar de tudo, o gosto pelo convívio social e pela cavaqueira amena, em especial com os seus conterrâneos, cavaqueira que punha em dia, enquanto a saúde e a idade o permitiram, nos encontros ao fim de semana mantidos na sede da Associação dos Antigos Alunos do Ensino Secundário de Cabo Verde em Carnide.

Manuel Lopes, aqui lhe prestamos a nossa singela homenagem. Bem-haja pela sua perseverança, morabeza, sabedoria e humildade!

Manuel Lopes – O último “Claridoso”

24 Janeiro, 2014 04:53 Comentar isto

Manuel Lopes claridade

25-01-2005 Último sobrevivente de Claridade, o escritor cabo-verdiano Manuel Lopes morreu hoje em Lisboa, onde vivia há mais de 40 anos. Último sobrevivente dos fundadores da revista Claridade, o autor de “Flagelados de vento leste” e “Poemas de quem ficou”, entre outros vários títulos, contava 97 anos de idade.

Manuel Lopes claridade

Manuel Lopes – pintura de David Levy Lima

Manuel Lopes claridade

Ficcionista, poeta e ensaísta, nos últimos anos pintor também, Manuel Lopes morreu hoje em Portugal, onde vivia desde 1959. Fundador com Baltasar Lopes da Silva e Jorge Barbosa da revista Claridade, Manuel Lopes integra por isso a galeria dos fundadores da moderna literatura cabo-verdiana. Os seus romances “Chuva Braba” e “Flagelados do Vento Leste” são ainda hoje exemplos da definição dos contornos dessa ficção nascida nos anos 40 com a publicação de “Chiquinho”, do seu colega Baltasar Lopes da Silva.

Manuel Lopes publicou também, entre outros títulos, “Poemas de quem ficou” (1949) e mais recentemente “Falucho ancorado” (1997) que reúne alguma da sua poesia dispersa. Nalguns dos seus poemas estão patentes a típica inquietação claridosa: “Nunca parti deste cais/ e tenho o mundo na mão! / Para mim nunca é de mais / responder sim / cinquenta vezes a cada não”, escreveu no poema “Cais” inserto no livro “Crioulo e outros poemas”, de 1964.

A propósito da morte de Manuel Lopes, figura com quem não se entendia politicamente, o embaixador cabo-verdiano em Lisboa, Onésimo Silveira, afirma: “Podemos discordar dele politicamente, mas não há dúvida que era um prosador de fino recorte literário. Cabo Verde deve-lhe muito”.

Manuel Lopes claridade - Galo Cantou na Baía

Manuel Lopes – Galo Cantou na Baía

Ainda que a sua obra narrativa mais significativa seja de temática santo-antonense, Manuel Lopes era na verdade natural de São Vicente, tendo nascido em 1907 nessa ilha. Jovem ainda conheceu o caminho da emigração. A família fixa-se em 1919 em Coimbra (Portugal) e em 1923 ele regressa a Cabo Verde como funcionário de uma companhia inglesa. Em 1944 – portanto já depois da fundação de Claridade – , é transferido para os Açores, onde vive até fixar-se novamente em Portugal em 1959, mais concretamente em Lisboa, onde passa a viver até a sua morte.

Ao longo da vida Manuel Lopes foi contemplado com vários prémios literários tanto em Portugal como em Cabo Verde. O seu romance “Flagelados do vento leste” foi Prémio Meio Milénio do Achamento de Cabo Verde, em 1968. Antes, por duas vezes, ganhou o Prémio Fernão Mendes Pinto – “Chuva Braba (1956) e “Galo cantou na baía” (1959). Em Cabo Verde, em 1986, portanto depois da independência e por ocasião do cinquentenário da Claridade, foi-lhe atribuído o Prémio Claridade, ex-aequo com Baltasar Lopes da Silva.

José Vicente Lopes in A Semana

Manuel Lopes claridade

Manuel Lopes, Poeta, contista, romancista e ensaísta

24 Janeiro, 2014 04:45 2 comentários

Manuel Lopes (Manuel António dos Santos Lopes), nasceu a 23 de Dezembro de 1907 na ilha de S. Vicente. Estudou no colégio de S. Pedro e na Escola Comercial em Coimbra. Regressou a Cabo Verde e empregou-se como telegrafista, primeiro na Italcable e, com o fecho desta companhia devido à II Guerra Mundial, passou a tesoureiro da Câmara Municipal de S. Vicente, depois empregou-se de novo como telegrafista na Western Telegraph, primeiro na ilha de S. Vicente, depois (1944) na cidade da Horta, ilha do Faial nos Açores, e por último em 1956, foi transferido para os escritórios de Carcavelos, Cascais, Portugal, onde se reformou e passou a viver. Possuí condecorações portuguesas e cabo-verdianas.

Manuel Lopes

Manuel Lopes – escritor

Manuel Lopes, percurso

Poeta, contista, romancista e ensaísta, tem participado ao longo dos anos em várias conferências e congressos na Europa, na África e no continente americano (como os “Colóquios Cabo-Verdianos”, Lisboa, 1959, o “VI Congresso Internacional de Estudos Luso-Brasileiros”, Boston e Nova Iorque, EUA, 1966, o “Claridade“, Mindelo, ilha de S. Vicente, 1986 ou o “I Congresso dos Quadros Cabo-Verdianos da Diáspora”, Lisboa, 1994). Foi por duas vezes laureado com o Prémio Fernão Mendes Pinto para a ficção e ainda com o do Meio Milénio do Achamento das Ilhas de Cabo Verde também para a ficção. Foi – juntamente com Jorge Barbosa e Baltasar Lopes – fundador e colaborador da revista Claridade da qual foi o primeiro director. Para além da poesia escreveu também contos e artigos de crítica social e política. Colaborou em vários jornais de Cabo Verde, dos Açores e também de Portugal continental. Cabo-Verdianos: Notícias de Cabo Verde, O Eco de Cabo Verde, Resurgimento, Cabo Verde – Boletim de Propaganda e Informação, O Arquipélago; nos portugueses Novo Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro onde se estreou escrevendo sonetos, Atlântico, O Mundo Português, Boletim do Núcleo Cultural da Horta, Actividades, Estudos Ultramarinos, etc. Figura em várias antologias literárias como Poesia de Cabo Verde, Lisboa, 1944; Antologia da Ficção Cabo-Verdiana Contemporânea, Praia, ilha de Santiago, 1960; Modernos Poetas Caboverdianos – Antologia, Praia ilha de Santiago, 1961; Poetas e Contistas Africanos, São Paulo, Brasil, 1963; Antologia da Terra Portuguesa – Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Macau e Timor, Lisboa, s/d, (1963?).; Literatura Africana de Expressão Portuguesa, (vol.1, poesia) Argel, Argélia, 1967; Literatura Africana de Expressão Portuguesa, (vol.2, poesia) Argel, Argélia, 1968; La Poésie Africaine de Expression Portugaise, Paris, 1969; Contos Portugueses do Ultramar, Porto, 1969; Literatura Ultrumarina, Lisboa, 1972; No Reino de Caliban – Antologia Panorâmica da Poesia Africana de Expressão Portuguesa, Lisboa, 1975; Resistênca Africana – Antologia Poética, Lisboa, 1975; Antologia Temática da Poesia Africana 1 – Na Noite Grávida de Punhais, Lisboa, 1976; Contravento – Antologia Bilingue de Poesia Caboverdiana, Taunton, Massachusetts, EUA, 1982; Sonha Mamana África, São Paulo, Brasil, 1988; Cinquenta Poetas Africanos, Lisboa, 1989; No Ritmo dos Tantãs, Brasília, Brasil, 1991; etc.

Manuel Lopes - escritor e capas de livros

Manuel Lopes – escritor e capas de livros

Manuel Lopes, publicou: Paúl – Descrição de um Vale, Mindelo, ilha de S. Vicente, 1932, impressa na Sociedade de Tipografia e Publicidade, Lda. 29 p. (crónica de viagem); Evocação Faialense (folheto), Horta, Açores, 1948; Poemas de Quem Ficou, Angra do Heroísmo, Açores, 1949, 82 p.; Temas Cabo-verdianos, Lisboa, 1950 (e); Os Meios Pequenos e a Cultura, Horta, Açores, 1951, 56 p. (e); Chuva Braba, Lisboa, 1956, Instituto de Cultura e Fomento de Cabo Verde, 310 p. (r); O Galo que Cantou na Baía, Lisboa, 1959, edição Orion, 224 p. (c); Os Flagelados do Vento Leste, Lisboa, 1959, edição Ulisséia, 268 p. (r); Crioulo e Outros Poemas, Lisboa, 1964, edição do autor, 93 p. (p).

Os seus romances encontram-se traduzidos para o russo e francês e de Os Flagelados do Vento Leste foi realizado um filme com o mesmo título pelo realizador português António Faria. A sua vida e obra têm sido objectos de estudos e ensaios de que realçamos: Manuel Lopes. Um Itinerário Iniciático, Praia, ilha de Santiago, 1995, Instituto Cabo-verdiano do Livro, por Marie-Christine Hanras; Simbologia Telúrico-Marítima na Obra de Manuel Lopes, Évora, Portugal, 1996, Pendor Editorial, por José-Augusto França.

João Nobre de Oliveira
“A Imprensa Cabo-verdiana 1820-1975” edicão Fundação Macau, Setembro de 1998

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